
Brincar com rimas foi o modo que o escritor e ilustrador Marcelo Tolentino escolheu para subverter a ordem comum e divertir crianças no seu primeiro livro O Mundo Seria Mais Legal, de 2017. Imaginar que os pequenos não têm problemas é coisa de adulto inocente. Ou mal informado.
Conceber uma Cidade Para as Crianças envolve planejamento de segurança, trânsito, educação, cultura e outras tantas instâncias. O que se apreende do todo é que uma cidade gentil com elas, é uma cidade melhor para todas as faixas etárias. Chegamos a essa conclusão depois de conversar com Bianca Antunes, Marcelo Peroni e Úrsula Troncoso, um time acostumado a lidar com as demandas infantis e que foi mediado pela jornalista Marianne Wenzel. Veja a seguir os pontos altos da conversa.
URBANISMO É ASSUNTO DE TODO MUNDO | Não importa a faixa etária ou a condição sócio-econômica, todos temos direito à cidade. Bianca Antunes acredita que todos PRECISAMOS CONHECER A CIDADE ONDE VIVEMOS e que esse é o primeiro passo para nos fazermos atentos às necessidades de melhorias. E Ursula Troncoso, da sua experiência de campo, defende que os ENCONTROS INTERGERACIONAIS SÃO TERMÔMETROS DE LUGARES ACOLHEDORES.
O princípio que norteia a melhoria coletiva se dá no momento em que percebemos que, ao FAZER MELHORIAS PARA AS CRIANÇAS, TAMBÉM AS FAZEMOS PARA SEUS CUIDADORES. Calçadas que dão passagens aos carrinhos de bebê também facilitam a vida dos adultos e a de pessoas com mobilidade reduzida. Duas iniciativas inteligentes de grande impacto são favorecer a SEGURANÇA VIÁRIA, com mais modais e menor velocidade e NATURALIZAR O ENTORNO, o que significa na prática trazer mais verde para a rotina de todos.
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À frente da pasta da Cultura numa cidade que colocou a POLÍTICA DA CRIANÇA COMO PRIORIDADE, Marcelo Peroni brinca que não basta pintar escolas – é preciso dar a certeza aos pequenos de que, ao SAIR DE CASA, ELES FARÃO PERCURSO COM SEGURANÇA. Para tal, a cidade de Jundiaí, SP, IMPLEMENTOU DIVERSOS MODOS DE ESCUTA. Seja no Comitê das Crianças, seja nos Conselhinhos das escolas municipais, agora elas têm voz e suas opiniões e demandas são levadas em consideração, inclusive com retorno do poder público.
Tornar a ARTE MAIS ACESSÍVEL para as infâncias também entrou na lista de prioridades, assim como a criação de BRINQUEDOS NÃO ESTRUTURADOS, capazes de entreter e estimular a criatividade. O INVESTIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA É CAPAZ DE MINIMIZAR DESIGUALDADES SOCIAIS. Cabe a nós, adultos, garantir que nossos pequenos tenham acesso ao que é deles por direito.
*O Esquina agradece mais uma vez aos debatedores, agora devidamente titulados a seguir:
Bianca Antunes é supervisora da iniciativa Urban95 no CECIP, que apoia municípios brasileiros a desenvolver projetos e políticas públicas para a primeira infância. É também cofundadora da Pistache Editorial e do projeto Casacadabra, onde une crianças e cidades escrevendo e produzindo livros e jogos. É coautora do livro infantil “Vou a Pé”, recém-lançado. Formou-se jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da USP e abraçou sua paixão pelas cidades no mestrado em desenvolvimento urbano e cooperação internacional (TU Darmstadt e UIC Barcelona). Nosso representante da vez no poder público é Marcelo Peroni, gestor de Cultura da cidade de Jundiaí e coordenador da Rede Brasileira de Cidades para Crianças. Graduado em Letras, formado pelo Teatro Escola Célia Helena e pós-graduado na ECA/USP com especialização em Cultura, atua como pesquisador do teatro para infância e juventude desde 2015, quando fez residência artística em teatro para crianças na Itália. Participou de diversos eventos, encontros e formações relacionadas à política da criança, entre eles o curso de Ciência Comportamental para o Desenvolvimento na Primeira Infância, INSEAD na França e da Academia Urban95, pela London School of Economics and Political Science. Fechamos o trio com Ursula Troncoso, arquiteta e urbanista à frente do Ateliê Navio, escritório de arquitetura e urbanismo focado em cidades, infância e educação. Com pós-graduação na Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), estudou Espaços de Aprendizagem Outdoor para Primeira Infância (NLI – North Carolina State University). É membro fundador do GT Cidade, Infâncias e Juventudes do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP), participa do programa de Liderança Executiva para Primeira Infância da Harvard University e atua como consultora da Fundação Bernard van Leer, organização holandesa que advoga por cidades amigas das crianças, e do Banco Mundial, no programa de Mobilidade e Infância para Educação Inclusiva.
Agradecemos também ao Comunitas, parceiro sempre gentil, onde acontecem os debates.
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