Tuca Vieira é um fotógrafo com formação em letras que acaba de defender sua dissertação de mestrado na FAU/USP. Foi fotojornalista por muitos anos e em seus trabalhos pessoais sempre coloca desafios fotográficos que nada mais são do que experiências e exercícios de se aprofundar na essência das cidades, da sua expansão, de suas escalas e diversidade.
Em sua palestra na Escola da Cidade no final de maio, havia acabado de voltar de uma jornada pelo Extremo Oriente em que a regra foi fotografar cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Em cada cidade o fotógrafo permaneceu 7 dias. O mesmo tempo que o Deus teve para fazer o mundo. Pois foi mais ou menos como Tuca descreveu sua chegada nas cidades até o momento dos registros fotográficos: “fui sistemático nisso, no primeiro dia fazia a parte burocrática de escolher hotel, trocar dinheiro e ai levava uns 3 dias percorrendo a cidade sem fotografar absolutamente nada. Primeiro percorria o quarteirão do hotel, depois o centro da cidade e ai começava a me aventurar pelas bordas e periferias desta área mais central, os locais que mais me interessam.”
Estas franjas da cidade, onde o seu cartão postal desaparece, é o ponto de inflexão do fotógrafo. Porém, diferente de São Paulo, que Tuca poderia se deslocar com muito mais facilidade como podemos ver em “Atlas da cidade”, nas hipercidades do Oriente este “desfoque ” em direção às margens deve ter provocado mais estranhamentos ainda, afinal era um estrangeiro em todas as cidades que percorreu com uma semana para chegar no lugar onde a fachada oficial da cidade, o centro, dá lugar à essência. Como disse o fotógrafo, a máquina fotográfica é mero veículo para satisfazer minha curiosidade e desejo de aventurar-me e descobrir a essência das cidades. O que vale nisso tudo é a busca para chegar naquilo que não é mais o monumental. Este percurso que nos retira do centro “vale ouro” e não podemos despreza-lo.
Perguntado sobre como são as hipercidades do Oriente, Tuca afirmou, são assustadoras em escala. De fato, as fotografias de Tuca mostram isso, uma China construindo e destruindo cidades e mais cidades, prédios altíssimos, mesmo que estes não estejam habitados ainda, não importa, a indústria da construção permanece em moto-contínuo. Jacarta é latino-americana, Tokyo uma hipercidade moderna.
Nestes 6 meses se deslocando pelas cidades do seu Extremo Oriente, Tuca sentiu que tocou o século 21 e que sem dúvida o futuro é bem diferente das antigas cidades européias onde repousa nosso nostálgico bem-estar.