Quem caminha pelas ruas do centro de São Paulo muitas vezes não se dá conta dos lugares históricos que atravessa. O crescimento vertiginoso da cidade resultou na destruição de nosso acervo arquitetônico, e prejudica de forma irreversível, a construção da identidade das presentes e futuras gerações.
A capital paulista cresceu em ritmo acelerado, desde o sucesso da exportação de nosso café. Deixou para trás o aspecto de vila colonial e expandiu aceleradamente em todas as direções a partir do final do século XIX. O desejo da época era de superar essa origem, eliminando por completo o nosso patrimônio cultural edificado. Sua herança segue deletando belezas de nossa paisagem urbana, em busca do “progresso”.
Assim a megalópole se transformou naquilo que o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo definiu como um palimpesesto: “um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova.”
A sobreposição de estratos históricos da cultura paulistana, que continua em transformação, gerou nesse grande organismo vivo um ambiente urbanizado com alto potencial arqueológico. Esse potencial é raramente levado a sério durante a construção de novas edificações e de melhorias urbanas, acarretando na destruição de dados importantes para a compreensão de nosso passado.
Um fato recente demonstra a falha que há em nossa memória cultural, e em sua difusão entre as gerações mais jovens. Foram descobertos trilhos na avenida São João durante as obras de revitalização do Vale do Anhangabaú, cinco décadas depois da última viagem de bonde pela cidade, e poucos sabiam de sua existência. Acontecimentos como esse sinalizam a importância da arqueologia urbana, para resgatar, valorizar e complementar as lacunas existentes na origem e história da cidade.