A região central paulistana passou por uma grande transformação do ponto de vista cultural e artístico no início desse ano: a abertura da última fronteira pública da Praça das Artes. A denominação Praça, na realidade, refere-se ao pavimento térreo do edifício que abriga os corpos artísticos do município, funcionando em conjunto com o Teatro Municipal.
O projeto, de 2012, é do experiente escritório Brasil Arquitetura. Marcelo Ferraz, por exemplo – um dos titulares do escritório – trabalhou lado a lado com Lina Bo Bardi, sendo um de seus principais colaboradores até o final da vida da arquiteta.
A participação do arquiteto em projetos como o SESC Pompeia, de Lina, sem dúvida influencia a produção do Brasil Arquitetura. Destacam-se, sob esse viés, projetos que lidam com edificações históricas no entorno do novo edifício – tais como Museu Rodin (Bahia, 2006), Museu do Pão (Rio Grande do Sul, 2007) e também a Praça das Artes.
Implantado em um terreno vazio, com frente para três ruas – absolutamente único no centro histórico da cidade – o edifício tira proveito de sua localização, conectando a Rua Conselheiro Crispiniano, a Avenida São João e o Vale do Anhangabaú. Ao edifício em funcionamento, faltava ainda a última frente se abrir: a do Vale do Anhangabaú, a mais importante territorial e simbolicamente.
Territorial, pois, além de completar o circuito do pedestre no prédio pelo térreo, cria uma escadaria cujos degraus também (e talvez principalmente!) funcionam como bancos, elementos que realmente faltam no Vale. Hoje são os balizadores para delimitação do circuito de veículos que são usados como assentos individuais.
Simbólica, porque a partir dali se tem uma perspectiva visual inédita do Centro Histórico, com sua sobreposição de tempos contada pelos prédios em diferentes estilos. Simbólica também pois marca na borda do Vale os ares de um novo uso.
No dia da inauguração, a Praça estava cheia e em festa, com bailarinas, dançarinos, artistas, palhaços e músicos. Que o espírito da Praça contamine o Vale!