Bill Gates colocou duzentos milhões de dólares na privada

Bill Gates botou mais de duzentos milhões de dólares na privada e foi a Pequim mostrar o resultado. Tendo em mãos um frasco contendo fezes humanas, abriu sua conferência na exposição Vaso Sanitário Reinventado.
Proporcional a um vidro de maionese, o frasco continha cocô só até a metade mas foi o bastante para transmitir a importância da mensagem: aquela pequena dose provavelmente incluía duzentos trilhões de rotavírus, vinte bilhões de bactérias Shigella e cem mil ovos de vermes parasitas.
Estar na China também contribuiu para o impacto, posto que automaticamente multiplicamos os números acima por 1,38 bilhões de pessoas / dia / ano e, antes de fechar a conta, nos lembramos que somos sete bilhões com pelo menos algo em comum.
Ocorre que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 2,3 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico. No Brasil, estima-se que metade dos domicílios careçam de esgoto.
Com a explosão urbana ao redor do mundo, as comunidades surgem e crescem sem que a rede de saneamento seja capaz de acompanha-las, indicando que o modelo tradicional de coleta, usina de tratamento e redistribuição de água potável se tornou impossível, e talvez jamais seja universalizado.
O presidente da República Popular da China e Secretário-Geral do Partido Comunista Xi Jinping, atento à questão comunitária, ordenou que a chamada “revolução sanitária” fosse prioridade em seu governo.
No evento que durou três dias, vinte novas tecnologias para melhorar o saneamento básico foram apresentadas. Todas elas têm em comum sistemas que separam líquidos, sólidos e neutralizam elementos nocivos à saúde humana e ao Meio-Ambiente.
Depois de sete anos de investimentos em pesquisa, a Fundação Bill & Melinda Gates afirma que a questão tecnológica está resolvida e o próximo passo é fazer a conta fechar. Mesmo descontando os custos com água e produtos para tratamento de esgoto, o preço das novas tecnologias ainda precisa cair dez vezes para se tornar viável.
Palpite: incluir na conta o custo das obras para instalação de rede de esgoto e estimar o total de despesas em saúde com doenças relacionadas à falta de saneamento básico deve aproximar a revolução sanitária do seu objetivo.
Com todos os países e blocos diplomáticos se borrando de medo da tensão comercial entre chineses e americanos, a presença de Bill Gates em Pequim faz lembrar da visita do Secretário de Estado Henry Kissinger ao primeiro-ministro Chu En-lai em 1972. O anfitrião serviu chá, tratou de amenidades e propôs: “Vamos conversar sobre o que nos une.”
Léo Coutinho, escritor e jornalista, é consultor político e estudante de Filosofia na Universidade Presbiteriana Mackenzie
Bill Gates
China
Léo Coutinho
meio ambiente
saneamento
saúde
tecnologia